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Sanções à Rússia: que impactos para as empresas?

Somam-se já quase três dolorosos meses desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, a 24 de fevereiro. Fora daquilo que é o verdadeiro teatro de guerra, uma das frentes de batalha do Ocidente contra Moscovo tem sido levada a cabo através da aplicação de sanções, de longe as mais fortes de sempre contra aquele país.

As punições contra o regime de Putin têm aumentado progressivamente com o escalar do conflito, levadas a cabo em grande medida pela União Europeia, EUA e Reino Unido. Incluem penalizações contra o setor financeiro(como o fim do acesso dos bancos russos ao sistema Swift), energético e de transporte, bloqueios às exportações russas, o ataque aos seus oligarcas (nomeadamente pelo bloqueio dos seus fundos), o travar do acesso russo a tecnologia sensível, componentes e equipamento de aeronaves, semicondutores telecomunicações e outros produtos, a suspensão da importação de petróleo e gás russos ou a saída de grandes multinacionais daquele país. Entre as empresas que suspenderam ou cancelaram as suas operações na Rússia estão a BP, a Apple, a Microsoft, a Boeing, a Visa e a Mastercard, a Volvo, a Volkswagen, a Starbucks, a Carlsberg e tantas outras.

Sendo certo que a prioridade agora é combater a Rússia por todas as vias possíveis, existem, como não podia deixar de ser, efeitos colaterais inerentes para os aliados da Ucrânia, nomeadamente para o setor empresarial ocidental.

Esse impacto será negativo para alguns e positivo para outros. Se fazer previsões é sempre um exercício arriscado, mais ainda quando se trata de uma guerra. Mas os analistas não têm grandes dúvidas de que, independentemente da escala em que tal irá acontecer, os efeitos serão desiguais, com vários perdedores, mas também com muitos negócios a beneficiar deste momento da história mundial.


Quem perde

Para as empresas de uma forma geral, a subida do preço da energia tem – e está a ter já – um enorme efeito no aumento dos custos de produção que resulta depois num aumento do preço de venda final dos produtos, que já está, de resto, a fazer-se sentir um pouco por todo o mundo. O efeito ‘bola de neve’ é inevitável e os consumidores já sentem os efeitos do aumento generalizado dos preços.

O aumento dos custos da energia poderá afetar os lucros de muitas empresas, nomeadamente nos EUA e na Europa, com um consequente efeito no crescimento do PIB em algumas economias que, por sua vez, pode ter impacto nos níveis de consumo nesses países.

Em concreto para setores como o agroalimentar, o facto de tanto a Rússia como a Ucrânia serem celeiros com importância global faz com que a ausência de importações desses mercados afete as empresas que deles dependem. Basta pensar que as exportações combinadas de trigo dos dois países representam perto de 30% do mercado global de exportação deste produto.

Por outro lado, a Rússia e a sua aliada Bielorússia controlam mais de um terço da produção mundial de potássio, sendo este um ingrediente-chave para os fertilizantes agrícolas.

Depois, para as empresas que tiveram de sair da Rússia, quer por deixarem de estar reunidas as condições para continuarem, quer porque em termos reputacionais, tinham mesmo de sair, muitas sofrem o efeito da perda das receitas que obtinham naquele mercado. E nem todas terão a mesma capacidade de ir buscar rendimentos a outras paragens para compensar.

Os efeitos da ligação à Rússia fazem-se sentir também de outras formas. Vejamos o exemplo de empresas em busca de financiamento bancário que, mesmo que mantenham uma exposição à Rússia não sancionada, podem ter dificuldades em consegui-lo fruto das reticências dos seus financiadores.

A isto podemos juntar os prejuízos para empresas ocidentais que tinham exposição ao rublo ou participações no setor empresarial russo, empresas que dependiam de recursos terceirizados da Rússia e da Bielorrússia (como no setor do software e outras indústrias de alta tecnologia) e outras que detinham subsidiárias russas que operam em áreas relacionadas com o setor energético.

O setor do turismo sofre também, nas zonas mais próximas do conflito, os efeitos do cancelamento de viagens por parte de quem prefere agora escolher destinos considerados mais tranquilos.


Quem ganha

Setores como a indústria da defesa ou as empresas da área da energia tenderão a beneficiar no curto prazo, sendo esse um dos efeitos mais óbvios, quando pensamos em ganhos, deste trágico conflito às portas da União Europeia.

A necessidade de garantir o fornecimento de energia fóssil e renovável e de aumentar o grau de autossuficiência dos países que dependiam da importação de bens energéticos dos países do conflito beneficia o setor energético. Por outro lado, o setor da defesa, assim como o da segurança cibernética, passaram para o topo da agenda política de muitos países, nomeadamente os da União Europeia e os EUA, com um aumento de investimentos nestas áreas que lhes estarão associados.

Um outro efeito positivo resulta da canalização do investimento que estava destinado ao mercado russo e afins. Estes fluxos de dinheiro estão a ser redirecionados e as economias que os receberem vão, evidentemente, beneficiar disso. Europa e EUA são candidatos possíveis, sendo certo que, tendo em conta que a economia russa é relativamente pequena, dificilmente falaremos de impactos de grande monta.

Depois, convém não esquecer os países que não aplicaram sanções. Para as empresas dessas economias que tenham ou possam vir a ter alguma relação comercial com a Rússia, as vantagens são claras.

Quanto ao setor do turismo, da mesma forma que alguns destinos mais próximos do conflito perdem com a guerra, outros, considerados mais tranquilos nesta fase, beneficiam pelo efeito de transferência de turistas para essas paragens. Portugal está, claro, entre os países que saem a ganhar.

Um outro benefício para o mundo ocidental, menos evidente ou imediato, pode resultar da chegada de mão-de-obra altamente qualificada. Muitos trabalhadores ucranianos, mas também russos, que estão a ter de fugir ao conflito, constituem ‘know-how’ que o Ocidente e as suas empresas irão aproveitar. No fundo, foi também isso que aconteceu nos tempos da Guerra Fria, quando cientistas, intelectuais e outros fugiram da União Soviética rumo aos EUA e a outros países.

Numa altura em que estamos ainda muito longe de saber quando acabará a guerra e quais os seus desenvolvimentos e danos colaterais, é por demais evidente que as sanções expansivas contra a Rússia não vão acabar tão cedo.

Por outro lado, não sabemos nesta altura que rumo tomará o conflito e com que efeitos no contexto geopolítico mundial. Nem que surpresas e volte-faces estão para vir. Se em menos de três meses tanta coisa mudou, muito mais vai ainda acontecer. O desfecho final é ainda um enorme ponto de interrogação.