Quer estejamos ainda a terminar o ensino secundário, já a iniciar uma carreira ou numa fase mais adiantada da mesma, muitas vezes esquecemo-nos da importância de ver o ‘big picture’. Pensamos, tendencialmente, mais no imediato: que curso queremos tirar, depois onde encontrar uma organização que proporcione boas condições de trabalho e, mais tarde, se vamos mudar, quer seja porque estamos insatisfeitos ou por termos recebido um convite, por exemplo.
Ora, ao definirmos um plano de carreira, vamos poder assumir um maior controlo do que queremos, ter uma postura mais proativa (e menos reativa) e sermos capazes de identificar onde estamos, tomar decisões mais conscientes e informadas e não deixar de refletir, ao longo do percurso, sobre se a nossa atividade profissional vai de encontro ao que valorizamos e nos realiza. Ou se, pelo contrário, fomos simplesmente apanhados pelo turbilhão do dia a dia e estamos em modo piloto automático, “on the hamster wheel”, sem termos dado por isso.
Um plano de carreira eficaz irá contribuir para uma vida profissional de maior sucesso, desde o momento da procura do primeiro emprego até ao desfrutar de uma carreira gratificante. Um planeamento adequado permitirá identificar as medidas a tomar face a determinadas ambições de carreira e desenvolver uma estratégia estruturada para atingir os objetivos desejados.
Trata-se, grosso modo, de um ‘roteiro’ onde estão identificadas as metas de carreira (que podem incluir objetivos de curto, médio e longo prazo), a estratégia a seguir e as etapas para lá chegar, num dado horizonte temporal. Para além de nos ajudar a manter o rumo, permite que se tenha a noção, a cada momento, sobre os passos e as decisões que é necessário tomar.
Estabelecer um plano de carreira ajuda-nos a definir um ‘guião’ mas também nos permite ter uma noção mais clara do caminho a percorrer e da exequibilidade do ponto de chegada pretendido. Claro que nunca vamos controlar tudo, mas é bom termos uma perceção realista do que está em causa para que tracemos metas alcançáveis e, assim, possamos aumentar as probabilidades de sermos bem-sucedidos.
Planear ‘com os pés no chão’ pode passar, por exemplo, por perceber quais os mercados de trabalho em crescimento e articular essa prospeção com as nossas áreas de interesse. Um mercado em expansão tem normalmente associada uma maior oferta de trabalho. E, pela maior procura de profissionais da área, maior o potencial de salários mais elevados, assim como possibilidade de evolução na carreira. Por oposição, se o mercado onde se quer trabalhar tem poucas perspetivas de crescer ou está até a encolher e perder importância, maior é a possibilidade de o plano de carreira gerar frustrações e insucesso.
Com isto, o intuito não é o de fazer a apologia de um olhar exclusivamente utilitário para a carreira profissional. Pelo contrário, quanto mais uma dada área de atividade e profissão for de encontro ao que nos interessa e apaixona, maiores as probabilidades de se ser bom no que se faz. Mas se o pudermos conjugar com a escolha de um mercado com mais perspetivas, teremos a melhor combinação possível.
Não há um momento certo ou errado para se elaborar um plano de carreira. Tanto pode acontecer antes da entrada no mercado de trabalho, aquando da mesma ou a meio do percurso profissional. O importante é que seja feito.
O primeiro passo é, como não podia deixar de ser, perceber qual a carreira que se quer seguir. Em alguns casos pode ser uma decisão fácil, mas, para outros, nem tanto. Há que ter em conta os nossos interesses e talentos, os traços de personalidade, os valores, as forças e fraquezas, as competências técnicas e as chamadas ‘soft skills’. E, em resultado, quais as carreiras que mais vão de encontro a tudo isto.
Outro ponto fundamental a ter presente está relacionado com a identificação daquelas que são as suas prioridades numa futura contratação e numa profissão. Todos valorizamos coisas diferentes. Alguns de nós estão mais focados na questão remuneratória, outros privilegiam o equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal, há quem dê maior importância ao ambiente no trabalho ou até às possibilidades de progressão na carreira. Para alguns, a carreira profissional é vista como veículo de obtenção de prestígio, para outros importa que tenha um contributo ativo na sociedade.
Depois, consoante o perfil seja mais introvertido ou extrovertido, conservador ou liberal, passivo ou empreendedor, artístico ou cerebral, também existirá uma carreira mais em consonância com estes interesses ou valores.
Todos estes aspetos, se considerados, irão contribuir para a escolha de uma carreira que não só vá de encontro às nossas áreas de interesse e ambições, como que também nos faça sentir mais na nossa ‘pele’ e a tirar o máximo partido do nosso potencial.
Por isso mesmo, pode ser importante perceber qual a ordem de grandeza dos salários em determinada área de atividade, que benefícios podem estar associados, qual a forma de trabalhar, o maior ou menor respeito pelo equilíbrio entre trabalho e vida pessoal ou as perspetivas de progressão na carreira, entre tantos outros critérios possíveis.
Para que consigamos produzir um plano com ‘cabeça, tronco e membros’ é importante ser-se específico, detalhando o que for possível sobre o objetivo a que nos propomos.
Por outro lado, e porque pode tratar-se de um projeto que demorará anos a concretizar-se, é benéfico dividir este caminho por etapas e respetivas estratégias para as atingir. Desta forma, será mais fácil ir fazendo pontos de situação e, se necessário, realizar ajustes face ao planeado inicialmente. Sempre que a área de atividade onde queremos exercer o permite e os objetivos possam ser quantificáveis, estabelecer metas mensuráveis traz igualmente uma maior objetividade ao nosso plano de carreira.
O estabelecimento de um plano de carreira deve gerar valor acrescentado e ser realmente uma ajuda, resultado de uma reflexão séria sobre para onde queremos ir. Ou seja, há que evitar que o plano não passe de uma mera lista de intenções.
Num plano de carreira tão pouco pode faltar um horizonte temporal que nos permita perspetivar como pode o nosso percurso profissional evoluir e quando esperamos conseguir chegar a cada etapa. É fundamental ir fazendo periodicamente um balanço da sua progressão.
Importa ter presente que um plano de carreira não é algo estanque e rígido que não possa ser revisto. Podem surgir oportunidades, mudanças de objetivos ou alterações de contexto que exijam um ajuste.
Tão pouco tem sempre a mesma finalidade. Pode ser desenhado simplesmente como uma ferramenta de gestão e desenvolvimento pessoal, enquanto estratégia para escolher uma profissão e encontrar emprego ou para promover ‘insight’ sobre que competências aprofundar e que fraquezas a corrigir. Em todos os casos, ajuda a manter o foco e a motivação e a visualizar os passos para se chegar onde se quer.
O importante mesmo é que possamos ser agentes do nosso percurso e parte ativa num caminho que se quer de sucesso.