Desde o início dos anos 90 do século passado que os níveis de inflação não eram tão elevados, longe vão as décadas de 70 e 80 onde as taxas se situavam na ordem dos 20%, tendo o pico sido atingido em 1983
com uma taxa superior a 30%.
Nos últimos 30 anos tem-se assistido a momentos de pouca volatilidade e taxas historicamente baixas o que tem permitido um clima de consumo e crescimento.
Nos últimos meses deu-se uma inversão dessa tendência e a inflação tem crescido, o que cria um clima de incerteza na vida dos consumidores e consequentemente observa-se um efeito negativo para a sustentabilidade e desenvolvimento das empresas: o crescimento generalizado dos preços de produtos, serviços e recursos tem impacto direto nos investimentos e compromete a estratégia, a operação e o planeamento das empresas. Por isso, é importante perceber quais são os impactos que a inflação pode ter nas empresas e como pode interferir no negócio para que se possa agir de forma direcionada.
Quando os níveis de inflação são elevados, sabemos 1) que o poder de compra dos consumidores diminui, consequentemente 2) vende-se menos e 3) tem-se custos mais altos. O aumento generalizado dos preços afeta empresas de todas as dimensões, no entanto, tem um impacto maior em pequenas e médias empresas, que, por um lado, não possuem reservas financeiras para absorver as taxas de inflação e reduzir as margens de lucro, e por outro têm um fraco poder negocial com os seus fornecedores.
Deste modo, para garantir que se consegue fazer face ao aumento de custos generalizados é necessário perceber quais são as áreas mais influenciadas pelos níveis elevados de inflação e onde se pode focar para tomar ações que minimizem os riscos:
1. Custos fixos de estrutura: Água, Luz, Gás, Telefone, Gasóleo, Rendas. Estes são serviços que tem ajustes em momentos de inflação e aumentam a estrutura de custos. Por esse motivo, devem ser observados e controlados ao pormenor de modo que se possa implementar politicas que gerem eficiência e permitam manter os custos.
2. Rendas dos espaços: Em negócios que tenham espaços para armazenar matérias-primas utilizadas na produção das suas mercadorias, ou que tenham a necessidade de guardar os produtos para comercialização ao público, devem desenhar um plano para reorganizar a localização dos recursos tendo em conta as seguintes hipóteses: 1) reduzir o número de espaços, 2) diminuir o tamanho dos espaços e/ou em última instância 3) alterar a localização dos espaços caso não aumente custos de distribuição ou afete o negócio. Eficiência no espaço, juntamente com facilidade de acesso às mercadorias podem criar melhorias no negócio.
3. Compras: Este é um dos pontos que mais sofre com a inflação e que afeta a produção dos produtos e/ou serviços. Todos os fornecedores sofrem do mesmo mal, por isso quando se compra mercadorias, é necessário fazer uma prospecção de mercado e encontrar novos fornecedores para que se possa aumentar a força na negociação, quanto mais fornecedores, maior escolha, quanto maior a escolha, melhor a negociação.
4. Empréstimos e dívidas à banca: Em tempos de inflação elevadas, as taxas de juro contratadas, se forem variáveis, tendem a aumentar. Caso exista necessidade de contrair novos empréstimos estes invariavelmente terão taxas mais elevadas. Nestes momentos deve-se negociar com várias entidades financeiras e considerar a importância e necessidade dos investimentos.
5. Recursos Humanos: Sem recursos humanos não existe mão-de-obra para produzir. Sem mão-de-obra para produzir não existe organização. Recursos humanos preocupados, que se tornem ansiosos em momentos de incerteza e com dificuldades em fazer face às suas obrigações podem desmotivar, reduzir a sua performance e colocar em causa a competitividade da organização. Crie condições de apoio aos colaboradores por forma a diminuir a sua preocupação com questões pessoais.
6. Produção: em tempos de inflação elevada, os custos de produção aumentam, pode-se chamar de causa-consequência: todas as matérias-primas aumentam e por esse motivo a produção têm um aumento inerente. As organizações não podem deixar de ser competitivas, logo tendem a absorver alguns dos aumentos das matérias-primas nas suas margens. No entanto, isso nem sempre é possível o que torna este num momento chave para implementar frentes LEAN aos processos de produção, de modo a aumentar a eficiência e a fazer mais com o mesmo ou com menos. Frentes Lean visam otimizar a produção reduzindo os desperdícios e aumentam a qualidade na entrega.
Após esta análise, é possível ter uma visão sistémica atual sobre a estrutura, os recursos e a operação. Deve-se atuar em cada uma delas de forma cirúrgica, diminuir os custos e aumentar a eficiência, sem alterações significativas na forma da organização trabalhar.
A eficiência direcionada ao cumprimento dos objetivos organizacionais é uma das chaves para combater a inflação por isso é importante que ao nível da gestão: 1) se proteja o dinheiro através de uma gestão rigorosa, 2) se otimize a cadeia de produção com processos eficientes e 3) ser ágil e inovador!
Proteja o seu dinheiro: Quando a inflação sobe o valor do dinheiro diminui, é preciso mais para fazer o mesmo. Cuidado com a exposição a créditos contratados a taxas baixas, e que atualmente podem tornar-se incomportáveis. Verifique se os créditos atuais são todos essenciais, qual o objetivo da sua contratação e se ainda fazem sentido! Se fizerem, considere uma ação de negociação com diversas entidades financeiras para consolidar créditos ou encontrar opções mais vantajosas. Novos investimentos devem ter uma probabilidade de retorno sobre o investimento elevada (>80%). Foque-se nos seus produtos e/ou serviços principais, torne-os melhores do que a concorrência, assim irá manter os clientes e o lucro.
Otimize a sua cadeia de produção: A cadeia de produção das organizações são complexas e a medida que as organizações crescem, aumentam os pontos de ineficiência e desperdício. Por esse motivo é essencial melhorar toda a cadeia tornando-a mais eficiente, de forma a reduzir custos e a aumentar a qualidade do produto final. Tome atenção à escassez de produtos neste período, é costume dizer-se que a união faz a força e em tempos difíceis pode-se considerar uma aliança com associações, cooperativas ou grupos industriais.
Aposta na agilidade e inovação: atualmente, agilidade, automação e otimização são palavras de ordem, qualquer organização que quer sobreviver e ser competitiva, tem de ser ágil para se adaptar ao mercado e fazer os ajustes necessários, tem de automatizar para reduzir o erro humano e manter os seus processos consistentes e tem de otimizar para tornar os seus processos mais leves e eficientes.
Considere a utilização de sensores e robótica para aumentar a eficiência, a produtividade e reduzir os custos de manutenção e “retrabalho” (trabalho mal efetuado que necessita de ser feito novamente).
A inovação é determinante na manutenção de uma posição competitiva no mercado. Organizações competitivas, inovadoras, ágeis, sustentáveis e robustas aumentam a probabilidade de terem colaboradores e clientes satisfeitos.
Em momento de incerteza e transformação é importante fazer mais com menos e para isso é importante fazer alterações evolutivas, inovar e criar eficiência em tudo o que se faz. Acima de tudo, é importante entregar valor aos clientes. Porque no final, se os clientes estiverem satisfeitos, se comprarem os produtos, se a organização estiver robusta, qualquer evento que aconteça apenas permitiu um ajuste e uma melhoria da organização.