Tirar partido do ‘boom’ do comércio eletrónico, a que a pandemia veio dar um forte empurrão, pode passar pela aposta no dropshipping. Este modelo de e-commerce permite que quem vende não esteja exposto a problemas como os de dificuldade de escoamento de stocks, necessidade de grandes investimentos iniciais, estruturas de custos fixos pesadas e complicadas arquiteturas de logística.
A conceção e produção dos produtos, assim como o seu armazenamento e entrega ficam a cargo dos fornecedores. Em contrapartida, a empresa de e-commerce estuda o mercado, faz o levantamento das necessidades existentes e promove os produtos junto dos consumidores. O seu ganho será uma margem entre o valor que remunera quem gerou o produto e o preço cobrado ao consumidor final. No fundo, o que cada uma das partes está a fazer é a apostar e a focar-se naquilo que conhece melhor e em que se distingue, na sua atividade core.
As empresas de e-commerce fazem a prospeção dos fornecedores (fábricas ou distribuidores) e dos produtos que vão querer comercializar e para que mercados e estabelecem contratos de parceria. Estas plataformas eletrónicas vão fazer a ponte entre o fabricante e o cliente final e, em muitos dos casos, não chegam sequer a precisar de aceder e manipular os produtos vendidos.
Quem parte para este modelo de negócio fica, logo à partida, isento de uma componente relevante de custos fixos, associados, por exemplo, à constituição do stock necessário. Essa responsabilidade está do lado do fornecedor. Questões como a proximidade entre as instalações da empresa e os mercados alvo não se colocam. Não precisa de estar geograficamente implantado junto dos seus potenciais clientes. Ou de ter uma estrutura física ajustada ao seu volume de vendas. E é ainda possível testar produtos, disponibilizando-os na sua plataforma de e-commerce para uma primeira análise da resposta do mercado e, consoante os resultados, recuar ou ajustar a oferta.
O foco do seu negócio de e-commerce vai estar em ser a melhor montra possível dos produtos em venda. Questões como as estratégias de marketing e publicidade ou a relação com o cliente vão poder estar no centro das suas atenções.
Quer seja na fase inicial de criação do negócio, quer seja porque a empresa precisa de escalar o negócio e dar-lhe dimensão, o facto de o stock de produtos ser de outros permite externalizar parte relevante da exposição ao risco inerente a um novo investimento. Claro que, para isso, é fundamental escolher criteriosamente os fornecedores dos produtos a comercializar. E, já agora, sem comprometer a própria saúde financeira desses fornecedores.
Por outro lado, vivemos tempos de mudança constante, o que significa que quem se ajusta melhor e mais depressa segue em vantagem. O comércio eletrónico permite a monitorização, minuto a minuto, da procura pelos diferentes produtos, do efeito das campanhas publicitárias nas compras ou das promoções a que os consumidores melhor respondem. E o dropshipping pode ter, aí, vantagens acrescidas. Com uma boa carteira de fornecedores, é possível ajustar rapidamente a oferta sem ter uma estrutura de produção pesada para gerir e adaptar.
Conhecidas as vantagens do recurso a este tipo de ferramenta, a sua implementação enquanto modelo de negócio requer alguns cuidados e pontos a assegurar para que não se torne num presente envenenado.
Escusado será dizer que sem bons fornecedores nada feito. Ser o rosto de uma gama de produtos e o elo de ligação entre os clientes e os fornecedores significa que, se algo correr mal, é a imagem da sua marca e empresa que sai prejudicada.
Para que o dropshipping seja uma mais-valia para o seu negócio, é imperativo que exista uma sólida e fiável rede de parceiros. Não basta, por isso, ter em atenção a qualidade e o preço dos produtos em si. A capacidade de resposta à procura – nomeadamente em termos de circuito de produção e stock armazenado – assim como a qualidade da entrega são fundamentais. O mesmo se aplica quando falamos da gestão de trocas e devoluções por parte desses mesmos fornecedores. Aquilo que é a política de serviço definida pela empresa não pode depois esbarrar numa filosofia diferente aplicada pelos fornecedores na entrega dos produtos.
No fundo, trata-se de garantir que os valores desses mesmos fornecedores estão alinhados com os da sua empresa e que, portanto, o serviço a prestar por eles refletirá os padrões de qualidade definidos pela marca.
Como montra de produtos e serviços que é, uma plataforma de e-commerce deve ser mestre na promoção dos mesmos junto dos clientes-alvo.
Todos os veículos são válidos, desde que sirvam os interesses de quem quer vender. Entre redes sociais, newsletters, websites, motores de busca, meios de comunicação social e outras plataformas de publicitação, o importante é saber o que promover, junto de quem, onde e de que forma.
A concorrência é imensa e o número de ‘inputs’ publicitários e outros que as pessoas recebem todos os dias é grande, o que obriga a ser o mais eficiente possível na forma de comunicar.
O dropshipping pode ser um negócio muito sedutor e com boas margens, mas não é, à partida, uma atividade de retorno garantido. Como nenhuma é, de resto.
Assim, é importante ter presente que, em muitas situações, a sua plataforma não será exclusiva na venda daqueles produtos, o que significa ter de concorrer com outros operadores, alguns bastante sofisticados. Tal significa uma exigência acrescida sobre os preços praticados (a não ser que se trate de mercado de nicho e com maior poder de compra) e sobre a qualidade do serviço prestado.
Por outro lado, o senão de se ser intermediário está no facto de não se controlar diretamente variáveis como a qualidade do produto, o serviço prestado pelo fornecedor ou a gestão do stock que é feita. Por outro lado, ser-se intermediário significa, normalmente, uma maior pressão sobre as margens.
Feitas as devidas ressalvas, este pode ser um importante veículo para, numa primeira fase, ganhar experiência e aprender sobre este mundo do comércio eletrónico, sem os tais investimentos iniciais pesados que outro tipo de modelo de negócio acarretaria. Independentemente de ser ou não esse o caminho que irá escolher para um investimento de longo prazo mais à frente no caminho. Acresce que, se se decide arriscar e entrar numa nova área de negócio, é sempre na convicção de que se tem valor acrescentado para trazer para o mercado. E isso fará toda a diferença.