A Black Friday atravessou há muito o Atlântico passando a ser um evento importante em Portugal, quer para os consumidores, quer para os retalhistas. E nem a pandemia ‘arrefeceu’ esta tendência, apenas mudou alguns hábitos de consumo, fazendo disparar o recurso ao e-commerce. As expectativas dos especialistas quanto às tendências a nível mundial para este ano revelam, no entanto, que os consumidores continuam a ajustar-se e a mudar comportamentos.
Este ano a Black Friday está agendada para dia 25 de novembro, mas este é um período promocional que deixou há muito tempo de durar apenas 24 horas para ser algo que, ainda que tenha oficialmente início na sexta-feira após o Dia de Ação de Graças, acaba por ser aproveitado pelas marcas para campanhas que podem ter início ainda no final de outubro.
Atualmente, qualquer tipo de produto pode ser alvo destas campanhas. mas, tradicionalmente, a Black Friday oferece por regra os descontos mais atrativos em bens como tecnologias, produtos eletrónicos, brinquedos ou jogos. Esta é por regra também uma época aproveitada pelos consumidores para fazer compras de maior monta ou relacionadas com produtos de luxo, por exemplo.
Este grande evento mundial de vendas e descontos acaba por marcar atualmente o início da época das compras de Natal, que vai depois até ao final de dezembro. Muitos retalhistas guardam para a Black Friday as maiores promoções do ano ou, mesmo que assim não seja, é essa a expectativa dos consumidores.
O surgimento e crescimento do e-commerce veio desempenhar um papel importante nesta campanha, ao permitir que as encomendas e compras possam ser feitas sem ser necessário participar nas tão famosas enchentes nas lojas físicas a que assistimos há anos. No entanto, precisamente fruto deste crescimento do comércio eletrónico, a Black Friday tem perdido alguma força em termos do volume de vendas que representa para as marcas já que, no mundo digital, as promoções tendem a ocorrer com grande regularidade ao longo de todo ano.
Depois de 2021 ter confirmado que o e-commerce veio para ficar, este ano espera-se que se confirme um padrão de comportamento que se começou também a observar no ano passado. Há muito consumo que está a regressar às lojas físicas.
Em 2022, os especialistas na área do consumo e retalho apontam para algumas tendências relevantes. Espera-se que os consumidores distribuam os seus gastos em compras durante o último trimestre do ano,nomeadamente as destinadas a presentes ou outros consumos relacionados com a época festiva. Numa altura em que há muitas incertezas no horizonte, esta é também uma tendência que pode ter como objetivo um maior controlo de riscos.
Por outro lado, as compras online continuarão a ser prevalecentes, mas mantém-se a tendência de regresso de parte do consumo às lojas físicas. Acresce que, cada vez mais, os consumidores apostam numa lógica multicanal. Em lugar de optarem apenas por um dos canais, optam por, consoante a sua conveniência e necessidades, escolher um ou outro meio para realizar as suas compras.
As mazelas prometem ser inevitáveis. Com o aumento da inflação e a expectativa de que tal possa ainda ser reforçado, já que o conflito na Ucrânia está longe de ter data para terminar, os efeitos no consumo são expectáveis. Observa-se já um maior apetite dos consumidores por ofertas e promoções o que, à partida, é benéfico para eventos promocionais como a Black Friday. Cada vez mais os particulares estão em permanente busca por campanhas em que tenham uma possibilidade – real ou percecionada – de poupar.
Por outro lado, sendo certo que, a prazo, as pessoas tenderão a conter-se nos gastos, a época do Natal tem um peso enorme em muitas culturas, existindo alguma tolerância quanto ao que os consumidores estão dispostos a gastar. Mas, com a queda dos índices de confiança, muitos acabarão, mais tarde ou mais cedo, por apertar o cinto.
Para que as marcas tirem partido, ao máximo, das oportunidades de mais uma Black Friday, é fundamental que tenham em conta o atual ambiente económico e o respetivo efeito no comportamento dos consumidores e nas suas necessidades. Muitos enfrentarão mesmo grandes dificuldades. Seja qual for o contexto, algo deve estar sempre presente: a importância de as marcas considerarem a sua estratégia como algo holístico em que qualquer posicionamento no mercado deve ter em conta, para além dos objetivos financeiros, um conjunto de valores, relacionados com a ética e a sustentabilidade, de que os consumidores hoje já não prescindem.